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13. Acostumei-me com a nova vida sem saber o que fazer com isso

A gente se acostuma com tudo, não é mesmo? Com o bom e o ruim! Eis uma das características mais bárbaras do ser humano: adaptação ao meio, ao novo, à mudança. Não fosse isso, não sobreviveríamos. O problema está no alto preço que pagamos por cada vez em que nos acostumamos...
Estava já conformada com a volta ao trabalho. Sobrevivi, carregando todas as consequências cabíveis disso.
O "leão" da vez agora era a ida da Bebela à escola. Um ano e quatro meses. Ela estava pronta? Eu estava? Já passou da hora? Era importante?
Já entendi que será assim sempre! Tudo relacionado à maternidade não é natural... é sofrido por um mês, penoso, doído bem no fundo e... passa! Pasmem! 
Penso que seja essa a razão de parecer natural para tantas mães. O sofrimento é passageiro e, nem ao menos nos recuperamos de um baque, já somos atropeladas por outro e outro e...é tudo sempre curto, mas intenso, agudo!
Talvez a maioria das mães prenda-se ao "curto", eu, esquisita que sou, fixo-me no "agudo". Disse ser uma mãe diferente! Desde o início...
Aliás sou assim: invertida, desde que me conheço por gente. Quando todos estão descontrolados, eu mantenho-me em falsa calmaria; começo sempre pelo que é mais difícil, só deixo-me desfrutar do fácil se venci TODAS as etapas anteriores; como os alimentos de que gosto menos antes, para só depois me jogar nos preferidos. Arquivo o ruim, esqueço o bom mais rápido. Ok! Sei, sou um caso a ser estudado (fica a dica querida psicóloga!). Do avesso!
Não poderia ser diferente quando virasse mãe - apesar de ter acreditado por um longo tempo que atingiria a felicidade completa para sempre, embora não comente sobre isso com muitas pessoas...
Imagino que para os que convivem comigo possa parecer puro rancor! Porém  penso que apenas seja diferente mesmo, nem para o mal nem para bem. Diferente e ponto. E por ser assim, não poderia deixar de guardar o sofrimento do inicio da vida escolar de minha filha.
Lembro-me da primeira reunião, na escolinha, para acolhimento dos pais. Bárbaro, não é mesmo? A professora nos entregou uma ficha com algumas perguntas:
- Como ela prefere de ser chamada?
- Como gosta de dormir?
E por aí vai...
Peguei-me escrevendo cada detalhe, na tentativa de pedir para ela que fizesse exatamente como eu, para que minha filha não se esquecesse de nós juntas... foi aí que "minha ficha caiu" (sim, gente, sou da década de 80, usei telefone público): minha filha seria, sim, cuidada por uma outra pessoa, estranha, longe de mim. Tinha que aceitar isso. No fim do encontro, a "estranha", deu-me um abraço tão forte que quebrou minhas resistências (verdade seja dita, não gostei dela, antes de conhecê-la, por ciúmes, por poder estar com minha filha e eu não). Mas "aquele abraço", ah... foi ali que passei a confiar nela. Mais escolas podiam fazer isso.
A partir daí, tudo foi mais fácil. Sofri por antecedência, muito, porém durante o processo, foi mais tranquilo.
Minha boneca ADOROU tudo desde o início. Aos poucos meu medo foi passando e cheguei a conclusão que deveria agradecer: trabalhava, na época, o período da manhã e cuidava de minha bebê, da casa e da preparação de minhas aulas à tarde. Corrido, mas o meu ideal.
Sentia-me feliz com meus alunos, mesmo! Dava meu melhor em sala de aula, por saber que logo estaria em casa com meu presente de Deus.
É verdade que não conseguia fazer nada por mim, mas... Estava valendo. Pegava-me pensando: "Ah! Mas ter uma ou duas tardes livre por semana seria beeem legal! Desejava isso, pedia a meu marido para pensarmos sobre o assunto para o próximo ano e... seguia.
A esta altura, quando tudo parecia mais calmo, adoeci novamente. Falando bem a verdade, vivia doente, coisas simples, mas constantes. Meu marido e minha filha também. Família sem imunidade, éramos nós!
Vale lembrar aqui, que a este tempo já havia me enquadrado melhor no papel de mãe, já o de esposa... coitadinho do marido... logo... não estava tudo tão bem assim.
E foi neste ponto - 20 dias de infecção não identificada, sem energia - que cheguei a conclusão mais óbvia do mundo: estava doente, sim, mas de alma, não de corpo. 
Cheguei a uma encruzilhada, precisava de ajuda! 
Se ao menos pudesse estar com minhas amigas... sabe o que penso? A vida moderna de hoje impede-nos de nos reunirmos na calçada, no fim da tarde, para "jogar conversa fora". Houve um tempo em que isso era possível as vezes... Hoje? Raramente ou nunca.
Não estou falando aqui que a vida da mulherada de antes era melhor ou mais fácil que a nossa, ao contrário: ser dona de casa é o pior serviço do mundo, ninguém dá valor, nunca, por mais que se faça. Enfim... como minhas amigas, irmãs, primas, tias e mãe tinham a vida tão corrida quanto a minha só me restou apelar, rsrs, voltei a fazer terapia. 




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