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65. O trabalho invade a vida


Pandemia! Eis que tudo muda. Nunca vimos nada assim, capaz de paralisar o mundo! Foi tão anormal que as vezes ainda parece mentira. 

Mas, não, não é mentira. Há um vírus forte o suficiente para desafiar a ciência e matar milhões de pessoas. E está em qualquer lugar. 

2020: o ano que nos obrigou a sermos diferentes.Começou com carinha feliz, de esperança e muito trabalho. De repente, nos surpreendeu em proporções gigantescas e a vida pediu reinvenção. 

A primeira coisa que mudou foi o trabalho, ele veio para dentro de nossas casas e, antes que nos déssemos conta, nossa intimidade foi escancarada. 

Não deixamos de trabalhar, mas precisamos aprender um jeito novo. Sim, temos filhos! Sim, eles choram, se irritam e resistem como se quisessem gritar: "Não está certoooo! Não aqui, em nosso lar! Aqui você é nossa mãe!"

Retrocesso total na luta das mulheres, altos índices de mães desempregadas: foram as primeiras, cujas cabeças rolaram. Foi escancarado o mundo patriarcal que se fingia de morto. 

As mães, sobrecarregadas, adoeceram. Quer dizer, eu adoeci, mas acho que também não está super no seu controle, né amiga? Dias infinitos trancadas, sem auxílio, tendo que dar conta. Não foi fácil! Não, não é verdade que nos entenderam. Tivemos que nos transformar. Nossos filhos, nossos lares, nossos espaços, nada foi respeitado! Por mais que fizéssemos, não era o suficiente.

Se pensei em desistir??? Nossa, muitas vezes... Cada vez que minha pequena grudava em minha perna, virando meu rosto do computador para olhar para ela. Ou minha maior verbalização que eu "só trabalhava!". Foi muito difícil, né, não? Foi! Tivemos, como nunca, que aprender a falar! Tá, ok 🙄, na verdade, o verbo certo é gritar, quem eu quero enganar? Vocês viveram isso também, sabem melhor que ninguém: enlouquecemos! Bem estilo "tô doidona". Foi grito com as crianças, com o marido, com os bichinhos... Tivemos cada monólogo... "Vou sumir, vou nada, agora vou, manhêê!" Pelo amor!!!! 

Começamos empolgadas, né mulherada! Com atividades pedagógicas, papel, tinta, massinha (gente, se contar o quanto gastei de massinha de abril para cá 🙈). O plano piloto era ótimo: distrair os pequenos com atividades lúdicas e, durante isso, trabalhar. Pausa para o almoço, bolo para tarde... Acreditamos, por uma semana, que brincaríamos de casinha. 

E então veio a realidade! Não importava o quanto cozinhávamos, as crianças ainda estavam com fome! Podíamos dar a livraria para elas que, ainda assim, faríamos nossas reuniões com choro por detrás.

Meu mundo cor de rosa desmoronou quando, durante uma aula online da mais velha, a mais nova apareceu com uma colher de pau e acertou a cabeça da outra. Nesse dia entendi o que seria a quarentena 🤯. Isso foi no fim de abril 🙈. 

Devem estar se perguntando se sobrevivemos. Claro! Assim como em todos os outros lares. Quero permanecer assim? Não e sim. 

O que menos sinto falta é do horário, sabiam? Como é bom acordar sem tem compromisso marcado! Hora para chegar, mil atividades... Como é bom! 

Aprendi que, apesar de já não ter muito, ainda assim, não é necessário o tanto de sapato guardado. E que a moda é o conforto! Minimalismo, aqui vou eu! Xô, consumismo! 

Mas era bom poder me arrumar para ir trabalhar. Tomar um café com uma amiga... Que saudade!!! 

Não retornaremos iguais, sabemos! Algo se transformou em nós. Estranho mundo novo! O que esperar para depois? 🤷🏻‍♀️

Vamos só levantar amanhã, pedir ajuda para dar conta da não rotina e seguir... Estamos vivos, isso já é graça alcançada, o que mais podemos querer? 

Senti muito por minhas filhas: antes, apesar de pouco, tínhamos tempo de qualidade, agora o trabalho não tem hora para acabar, se é que acaba e, quantas vezes me peguei trabalhando na madrugada. 

Não acertei isso ainda... Estou tentando. Orgulho-me de dizer que, mesmo com dificuldades, desfraldei a pequena e tirei sua chupeta durante o dia. E a mais velha se formou, na Educação Infantil, alfabetizadíssima! Lendo um livrinho por noite 😍! Mas, está bem, isso já é conversa para um outro capítulo! Sigamos!  

Comentários

  1. Muito orgulho meu Amor!!!
    Mãe, professora, esposa, amante e não resta dúvida, as palavras por si só traduzem, uma bela escritora 😍😘
    Te amo !!!

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