Pular para o conteúdo principal

63. Entregando os pontos


20 de novembro de 2019, uma quarta-feira: o dia amanheceu estranho. Estou cansada. Não cansada de "putz, que dia!". CANSADA de alma. Não respiro bem. Como se a vida me deixasse exausta, sabe. Mais discussões com a Bela. Não sabia, juro, que a teimosia da adolescência poderia chegar antes. Dirijo até a escola, apesar de meu corpo inteiro e pensamentos, pedirem o contrário. Começo a aula, vários alunos falam comigo ao mesmo tempo: primeiro branco  do dia (não consigo continuar, a voz, cansada, quase não sai, o ar também não). Não consigo retomar o conteúdo. Insisto! Medo. Estou perdendo o controle de tudo? Quarta aula do dia e mais um branco. Mente embaralhada. Preciso voltar para eu mesma, minhas filhas precisam de mim e eu também. Pressão na nuca, forte. O peito aperta, sufoca. O braço pesa. Minha cabeça não suporta mais informações. Saio no meio do período. Procuro um cardiologista. Após vários exames sou encaminhada para o psiquiatra.
Dezembro: antidepressivos, depressão crônica 😔. Desisto de lutar com formas alternativas. O medo de perder o controle de mim mesma é maior... Afastada do serviço, já medicada, as coisas parecem ir encontrando caminhos. Deixo de olhar para a medicação como fraqueza. Entendo que estou doente e aceito ajudar-me. Pela primeira vez, vejo as birras da Bela, não como pessoais. A vejo como uma criança extremamente carente de tudo. 
Não queria isso para mim, ter que buscar medicação, mas por um curto espaço de tempo, será necessário.
Eis o motivo de meu sumiço por aqui..
As vezes é preciso aceitar ajuda. E tem tantas pessoas dispostas a isso: ajudar. Descubro, com a medição, um mundo de mais tranquilidade. 
Invisto em atividade física e óleos essenciais. Meu mantra diário: eu não sou, apenas estou doente, passará 🙌🏻
Os gritos, em casa, diminuem. As brigas, também. Vejo possibilidades. 🌺
Demorou para eu ter coragem de vir contar... Normal... Ninguém gosta de apontar as próprias fraquezas. Mas não sou ninguém. Sou aquela que não segue manuais. Falo! Reclamo! Exponho! Divido!
Sei que há tantas como eu... Vivemos em um mundo que nos faz pensar termos obrigações que não deveriam ser somente nossas. Quando percebemos, estamos dando conta de tudo e sozinhas. Mulher maravilha? Super poderes? Não 😔... Apenas pessoas a beira de um abismo. Não se enganem: precisamos de ajuda! Gritem e exijam isso! Eu me calei. Agora, preciso reaprender a falar. Óbvio que conseguirei! É certo 🙌🏻! 
Tenho tantas descobertas para compartilhar com vocês... Aguardem! 
Enquanto elas não chegam, já vão dividindo as tarefas por aí, diminuindo os compromissos, acalmando a alma. Não é necessário ver o pior do caminho para depois ganhar o por do sol! 🌷


Comentários

  1. Ferferrrr, você é o máximo! Estamos todas juntas nesta loucura e procuramos, incessantemente, por uma cura; uma cura para nossa alma. Encontraremos amiga! Obrigada por dividir conosco suas angústias. Elas são minhas também 🙏🏼🙏🏼♥️♥️

    ResponderExcluir
  2. Fer que delícia ler seu blog!
    Que saudades!!!!
    Um grande beijo😊

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário:

Postagens mais visitadas deste blog

64. Fênix

 Entregando os pontos? Jamais! Meu nome é Fernanda, sou de escorpião, filha de nordestino com Italiana e amo duas meninas. Nada me faz desistir!  Sim, é verdade que caio muitas vezes, mas para levantar ainda mais forte! Muito eu! Tenho duas lindas garotinhas, por elas encontro força. Não, não queria me submeter a medicação e seus efeitos colaterais... Mas o que não tem remédio, remediado está. Através do tratamento, vou permanecendo. Sem picos muito altos ou muito baixos. Apenas oscilando... Como onda sem espuma em mar tranquilo. Vou seguindo nesse vai e vem.  Descobrindo, pouco a pouco prazeres antes não vistos. Como se a vida ganhasse novas cores e sabores. Bem devagar vou experimentando tudo, redescobrindo uma alegria que ficava abafada pela doença.  Janeiro, fevereiro, março de 2020: é tempo de parar. #fiqueemcasa. De repente, o que era tão normal, fica estagnado. As mochilas são guardadas, uniformes amontoados. Os potes com nomes para o lanche perdem sentido. Deixa de existir a co

65. O trabalho invade a vida

Pandemia! Eis que tudo muda. Nunca vimos nada assim, capaz de paralisar o mundo! Foi tão anormal que as vezes ainda parece mentira.  Mas, não, não é mentira. Há um vírus forte o suficiente para desafiar a ciência e matar milhões de pessoas. E está em qualquer lugar.  2020: o ano que nos obrigou a sermos diferentes.Começou com carinha feliz, de esperança e muito trabalho. De repente, nos surpreendeu em proporções gigantescas e a vida pediu reinvenção.  A primeira coisa que mudou foi o trabalho, ele veio para dentro de nossas casas e, antes que nos déssemos conta, nossa intimidade foi escancarada.  Não deixamos de trabalhar, mas precisamos aprender um jeito novo. Sim, temos filhos! Sim, eles choram, se irritam e resistem como se quisessem gritar: "Não está certoooo! Não aqui, em nosso lar! Aqui você é nossa mãe!" Retrocesso total na luta das mulheres, altos índices de mães desempregadas: foram as primeiras, cujas cabeças rolaram. Foi escancarado o mundo patriarcal que se fingia