2. Não fui feita para dar a vida?

Esterilidade sem causa aparente. Ah??? Pois é... este foi o meu diagnóstico. Mas diagnósticos não são para dizer o que a gente tem?

Meu Deus! Tantos exames invasivos, tantas expectativas em cada um para isso? Sem causa aparente...  essa foi boa! Alguém do céu está tirando uma com minha cara, só pode ser isso!

Meu ginecologista sugere uma videolaparoscopia investigativa e... terapia. Que engraçadinho, por acaso ele está sugerindo que não engravido porque minha cabeça não deixa? E o coração? Não conta? Não importa? Ei! Todos vocês! Eu QUERO ser mãe! 

Ok! Querer então, no meu caso, não foi o suficiente. Vamos encarar isso de frente: nasci quebrada! Farei análise! Até porque parece que não tenho opção, minha prima já marcou meu horário! E quando a família pensa que você é louca... minha gente... é melhor não duvidar! 

Cirurgia e terapia agendadas! Estou mesmo fraquinha demais... de alma principalmente. Aproveitar todo o tempo livre para chorar, essa não deve mesmo ser uma atitude muito construtiva.

Diagnósticos (agora os verdadeiros!): 

- Terapia: realmente... "o buraco é bem mais embaixo!", quanta coisa para arrumar!!! Como vivi sem isso antes?

- Cirurgia: Endometriose, ovários policísticos, cistos obstruindo as duas trompas.

Nada que impedisse a gravidez, mas tudo que atrapalhava.

Fisicamente falando, tudo resolvido, útero agora limpinho! Seis lindos meses com muita chance de engravidar e... Nada!

- Diagnóstico 2: um ano e meio tomando altas doses de hormônios e SEM PODER ENGRAVIDAR! Oi? Este médico está doido? NÃO! E não e não! Recuso-me! Peço hormônios sim, mas daqueles que estimulam a ovulação, mesmo sabendo que eles podem também estimular a endometriose. Autorização concedida! Mas somente por três meses... Ok! Nada no primeiro mês! Nada no segundo! Volto no terceiro, sem mais um pinguinho de esperança... Acompanho a ovulação outra vez, três hormônios diferentes, parece que meu corpo não foi fabricado para gerar vida mesmo... termino o tratamento, última consulta... saio mais uma vez com a autorização do exame de gravidez e um aperto no peito. Choro na calçada mesmo! Estou com raiva do mundo! 

Sonho com Nossa Senhora que me avisa sobre uma criança forte que nascerá no dia de meu aniversário. Acordo assustada! "Só se for da vizinha, penso"... Entendem que não posso mais criar um pedacinho de esperança se quer? Porque não suportaria...E tudo o que passei só reforçou ainda mais minha hipótese: não fui feita para gerar nada.

Vinte e seis de fevereiro de dois mil e treze: estou grávida!

Gravida? Ah! Para vai... brincadeira tem hora! Não pode ser! Gravida? Farei outro exame, o laboratório errou em alguma coisa.

Dois dias depois e ouço ao buscar o resultado: "Você foi a única paciente que fez dois exames de sangue para confirmar a gravidez, rsrsr!" Está bem, confesso, exagerei, mas quem nunca...

Sinto-me luz! Felicidade é pouco! Não caibo em mim! Preciso gritar para todos: "Estou grávida!!!" E é exatamente o que faço! Espalho o mais rápido que posso a notícia! Carrego em mim vida! Preciso dividir essa alegria com todos... afinal, a esta altura, não havia quem, ao meu redor, já não rezasse por mim.