Antes de começar a escrever já deixo claro que falarei aqui minhas considerações de mãe, sem nenhuma pretensão de considerar-me certa.
Minha primeira filhota, Bebela, chorou demais, demais por um mês e meio, quando nasceu. E foi justamente o que desencadeou a história que contarei.
No início tinha aquela imagem doce, cultivada falsamente, da amamentação (já falei sobre isso em capítulos anteriores). Levava ao pé da letra tudo o que me era indicado pelos pediatras (tinha dois) e o banco de leite. A bebê ficava meia hora em cada peito, mais 20 min para arrotar e chorava, sem parar, após 40 min, às vêzes antes disso . Fazia de tudo para que parasse: trocava a fralda, dava colo, cantava, tentava distrair com brinquedos, colocava no sling, no berço, carrinho, mas nada adiantava, só sendo amamentada resolvia. Tudo o que diziam que aumentava o leite tomei...
Na época, havia lido muito sobre não fazer do peito a solução para tudo na vida da bebê, pois estaria ensinando-a a descontar os problemas na comida. Gravei isso. Também não era a moda da vez a amamentação por livre demanda. E os livros que seguia, orientavam para a criação de rotina.
Não suportei passar o dia sentada, amamentando. Tinha casa para limpar e arrumar, roupa para lavar, serviços diários. Você deve pensar: quem liga para isso? Eu! Não sei viver em um ambiente bagunçado. Não sei. Faz parte da minha sobrevivência mental, ter minha casa organizada. Devo ter algum toc, com toda certeza. Também não conseguia ficar parada, minha mente inquieta não suportava o "sentar e esperar"... Por tudo isso, mais o fator choro, após um mês e meio passei a dar complemento em todas as mamadas. Odiando-me por não ter sido capaz...
Então iniciou outro problema: quantidade... 120, 150, 240 ml? Foi exatamente nesse ponto que começou minha briga interna com as pesquisas e os pediatras.
A partir de três meses comecei a controlar a quantia de alimento de minha garotinha 😔, não me orgulho disso. Por ouvir toda consulta: "Ela engordou demais!"
"Mas também cresceu demais, isso não conta?"- eu dizia. Parecia que não... "Dê no máximo 120 ml". Mas o máximo deles sempre era pouco para ela. O que me fazia ficar extremamente insegura... Aumentava aos poucos, sempre com medo... Não queria que engordasse acima do esperado outro mês. Mas terminava toda mamada chorando e irritada.
"Mas também cresceu demais, isso não conta?"- eu dizia. Parecia que não... "Dê no máximo 120 ml". Mas o máximo deles sempre era pouco para ela. O que me fazia ficar extremamente insegura... Aumentava aos poucos, sempre com medo... Não queria que engordasse acima do esperado outro mês. Mas terminava toda mamada chorando e irritada.
Com quatro meses, fui orientada a entrar com suco e fruta, "se toma isso tudo de leite é uma criança gulosa, entre com alimentos sólidos". "Ela é grande, alimenta-se como um menino". "Engordou muito, mais um mês!" E por aí vai... Consulta após consulta! Uma tortura mensal. E eu me perguntando onde estava errando. Tudo o que oferecia a ela, gostava, comia e queria mais.
A introdução alimentar foi tranquila, no sentido de não ter tido trabalho com rejeição, porém foi difícil no quesito quantidade.
Barrar a família em relação ao que podia e não podia dar a ela foi outro problemão."Comendo certinho, só alimentos saudáveis, continuava a engordar, imagine comendo guloseimas?" Era o que pensava.
Barrar a família em relação ao que podia e não podia dar a ela foi outro problemão."Comendo certinho, só alimentos saudáveis, continuava a engordar, imagine comendo guloseimas?" Era o que pensava.
E foi assim até dois aninhos. Tudo muito regrado, limitado e acompanhado.
Após isso, para evitar brigas, passei a fazer "vista grossa", em relação ao que comia, nos fins de semana. Foi quando teve contato com Coca-Cola, sorvete, bolacha, bala...
Porém, em casa, meu controle na quantidade e na qualidade se mantinha firme!
Com uns três aninhos e meio, ela passou a escalar armários para pegar o que queria comer. E cada vez que ouvia o não, enlouquecia-me com escândalos gigantes, batia em mim, jogava o que tinha na mão (verdade seja dita, que fazia isso para todos os outros tipos de "não").
Nesta mesma época, em uma consulta, o médico foi categórico: "Sua filha está gorda! Você precisa cortar da dieta dela esses dez itens: achocolatado, bolacha recheada, suco de caixinha, chocolate, sorvete, salgadinho..." Pedi que ele parasse! Expliquei que nenhum item da lista fazia parte da dispensa de minha casa, falei, novamente, para ver se acreditaria ao menos uma vez, que só dava alimentos saudáveis para minha menina. Que, se pecava era no sorvete, feito por mim, tomado de sobremesa no almoço e na janta, com quantidade controlada: duas colheres de sopa. Ele disse então para passar a usar leite desnatado, cortar o doce da noite, usar menos açúcar e, orientou-me, colocá-la em mais atividades físicas, dua vezes por semana de natação era pouco. Essa conversa toda aconteceu na frente da Bebela 😔. Sinto demais que tenha sido assim.
Entramos, mais uma vez, no controle rigoroso de alimentação!
Matriculamos ela, duas vezes por semana, no Ballet. Mudamos para leite desnatado, cortamos a sobremesa da noite e seguimos.
Um mês e meio depois, soubemos que a Dora estava a caminho.
E junto a isso tudo, houve dois ou três episódios de coleguinhas da escola que a chamaram de gordinha. Ela voltava arrasada, dizendo não ser bonita 😢. Vê-la assim, deixava-me sem chão... Como foi difícil!
Passou, então, a dizer a todo instante que era bem magrinha e sentir vergonha de mostrar a barriguinha. Negou-se a voltar no pediatra. E a ansiedade relacionada a comida só aumentava. As nossas brigas e a barriga da Dora também...
Tempos difíceis, juro!
Tive uma conversa franca com o pediatra dela e, após a Dora nascer, com outra pediatra. Ambos me aconselharam procurar um psicólogo para ela. Não é saudável que uma criança gordinha diga o tempo todo: "Sou bem magrinha!"
Que fique claro aqui que minha menina está 100% saudável.
Hoje, ela está começando a aceitar-se. Mostramos a ela que eu e o papai também sempre fomos grandes, barrigudinhos e fortes! Ela está compreendendo que faz parte desse todo e começa a se convencer a ter orgulho disso.
Fico triste em saber que sempre terá pessoas tentando fazê-la se sentir mal. Quem nunca passou por isso, não é mesmo? Eu sofri muito em tempos de escola e nunca soube me defender. Minha resposta por não ter o padrão de beleza estabelecido por uma sociedade de valores corrompidos (não, não acho que isso seja coisa de criança, não vejo nada de "normal" uma criança continuar a ofender a outra, mesmo vendo o quanto está sofrendo) era ser a mais esforçada da turma, sempre muito estudiosa. Era o meu jeito de gritar. Não sei qual será o de minha filha. Torço para que não se deixe convencer por olhares maldosos de pessoas que não têm valor.
Está difícil para ela. Está doendo em mim.
Gostaria, de coração, que ela se amasse, com suas falhas e acertos, amasse seu corpo, seus caixinhos, sua barriguinha, tudo! Eu aprendi a gostar de mim, mas como demorou... Rezo para que ela encontre sua medida antes.
Minha decepção com pessoas e padronizações continua gigante, só para constar.
Se existisse fada madrinha, pediria que fizesse sapatinhos e roupinhas de criança para minha princesa, como é difícil encontrá-los. Marcas boas o fazem. Mas esta mamãe aqui é uma simples professora, não ganha para isso.
Nossa caminhada ainda será longa, sei disso, mas repleta de amor meu por ela.
Estou tentando ensiná-la a pedir o que quer comer, sem ter que pegar escondida. Hoje, após 5 anos, minha casa tem várias guloseimas, a ideia é tirar dela essa ansiedade gritante. Aos poucos vou estabelecendo a confiança.
Se pudesse pedir um favor ao mundo seria: deixem de olhar as pessoas sob o olhar da padronização. Passemos a nos relacionar com as diferenças. São tão poucos os que se encaixam na perfeição estética... há um mercado gigantesco que lucra diariamente com isso. "Estabelecemos um padrão que não existe como o "belo", e o mundo que gaste para correr atrás de alcançá-lo". Provavelmente e o que pensam.
E aos poucos vamos ficando doentes, por nos faltar identificação.
Um exemplo bobo, só como ilustração. Há dois anos comprei uma bermuda em uma loja de departamentos, n°: 40. Gostei muito dela, voltei mês passado lá e peguei outra, da mesma numeração, sem experimentar, e levei para casa. Ficou grande. Mas não, não emagreci. O corpo era o mesmo. Seja qual for a razão, a numeração mudou. Medi as bermudas, uma 40, outra 38. Exatamente iguais. Dá ou não dá para enlouquecer? Imagine isso na cabeça de um adolescente? Pira, né...
Enfim... Precisava falar sobre esse tema. É algo que me incomoda demais! Porque atingiu uma das pessoinha que mais amo!
Dica do coração: olhe para as pessoas e veja o que de melhor têm a nos oferecer. E as ame exatamente por serem o que são. Guarde os comentários maldosos, perca a piada, sim! Feio é acreditar que somente o seu padrão é o belo, isso é, no mínimo bizarro. Deixe disso, sô!
Essa daí debaixo sou eu 😊. Grande, forte e linda, como minha Bebela.
Ferfer, que texto mais lindooo e tristeeee. Um beijinho na Bebella 😍😍😍
ResponderExcluirTambém acho bem triste, Fabi. Queria que as pessoas amassem mais e julgassem menos...
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