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37. Se fosse fácil, não seria maternidade


Estou no terceiro mês de gestação. Já enfrentei dois sangramentos. Um com cinco semanas e outro agora, caminhando para a 11°. 
Dez dias de repouso... 
Quantas vezes, antes de ser mãe, implorei por isso? Quantas vezes, depois de ser mãe, sonhei com um dia, não precisava mais que isso, meu, só meu, do início ao fim?
Inúmeras! Sempre me achei ocupada demais para cuidar de mim. Quase tudo era mais importante que eu. Era? Disse era? Que bobagem... Para quem estou mentindo? Tudo tem mais importância que eu para mim! Sempre foi assim! Continua sendo!
Deveria ser diferente... Deveria curtir mais, seja lá o que a vida propõe para mim, mas não...
Dez dias! Que ironia! Ganhei um tempo e não sei, sinceramente, o que fazer com ele.
Estou fingindo uma calma que não é minha. Forjando paciência - nunca tive isso! Aparentando estar ok, enquanto tudo foge ao meu controle, quer dizer, tudo o que ainda consigo controlar (cá entre nós, quase nada).
Fico deitada, olhando para o teto, procurando não pensar.
É fim de bimestre, ninguém fechará minhas médias, estarão me esperando quando voltar, se voltar...
As aulas de minha filha não pararam, nem suas atividades. Não estou de férias, estou de repouso.
As atribuições de meu marido continuam como sempre.
Meu curso de costura segue a todo vapor, sou eu quem não poderei ir.
Todos saem de casa, a vida segue. A minha parou.
Dez dias! "Aproveite! Use esse tempo para você!" - eu mesma me incentivo, todos me incentivam. "É! Isso! Dez dias meus! Vou ler! Adoro ler!"
Um dia lendo! Cansei! Hoje vou escrever! Também amo escrever! Amanhã, talvez desenhe... Depois, pinte... 
"Tchau! Bom trabalho! Boa escola! Também amo vocês!" 
Silêncio... Outra vez eu e minha casa. Puxa! Mas sempre peço por isso! Viu! Consegui!
Consegui... Dez dias...
Agora é fazer tudo o que queria! Só que deitada. "Isso não pode, aquilo também não..." 
Não estou reclamando, parece, eu sei, mas não estou. Apenas escrevendo para tirar do coração. É necessário passar por isso e passarei. Não floreio a maternidade já há muito tempo...
Muito menos a gravidez. Tudo é sempre tão complexo, perigoso, arriscado. Disso sinto falta em relação à primeira barriga: ignorava o perigo. Tudo era novidade! Agora não... O caminho já é conhecido! Sei dos riscos, os medos já foram absorvidos. 
Rezo o tempo todo! Agradeço a vida de meus dois pintinhos 🐥🐣. Mas me canso, muito! 
Minha mãe está comigo! Ela também parou a vida dela, assim como eu, pelos filhos... E o ciclo segue! 
Dez dias? Terá mais? Como será? 
Eu sei como: eu vivendo por eles enquanto meu coração bater. 
Não é legal todo dia... As vezes choro escondida... Em outras, grito! Há momentos em que simplesmente emudeço. Tem também as risadas infinitas, o abraço apertado, os "eu te amo você, mamãe", as cartinhas... Como tudo na vida, tem o lado difícil e o bom demais!
Dez dias! De medo imenso (ok, sei que ele dura para sempre). Cuide das minhas crias, Senhor! Cuide deles por mim, por favor!
Faltam oito... E depois? Depois escrevo um novo capítulo 😉.


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