33. Explosão

Depois de quase quatro anos, pela primeira vez, olhei para atrás e senti saudade, como disse. Estava ainda saboreando essa sensação, fazendo planos, feliz, quando ouvi de um profissional da saúde, que nunca me viu antes, a seguinte fala: "Talvez você precise de ajuda​ para aceitar sua condição de mãe! Para aprender a conviver melhor com sua filha!"

😡😞😭 
Ah! As pessoas e seus palpites! Sempre terá alguém, né! Alguém julgando, como se tudo se resumisse entre o certo e o errado! Ignorando todas as demais possibilidades, as influências, tudo! Talvez precise mesmo de tratamento, para aprender de uma vez por todas a conviver com esse tipo de gente! 😏

Ao ouvir isso, passou-me na cabeça todas as vezes que virei o rosto, que neguei afago, que coloquei no berço, que odiei amamentar, que quis fugir, que chorei, que virei os porta retratos, que pensei não dar conta, que...😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢😢.

Por que não fui capaz de amar desde o primeiro dia? Por quê? 

Por que precisei aprender o que todo mundo diz fazer sem perceber? 

Minha Bela foi desejada, foi planejada, foi esperada... Onde foi que me perdi nesse caminho? 

CHEGA!!!! Por favor... Por favor... Pare! Não farei isso comigo outra vez... Não permitirei que ninguém faça! 
CHEGA! 

Eu mereço seguir! Minha filha merece que eu siga! 

Mãezinha do céu, mãe das mães, gostaria que soubesse que sinto seu perdão todos os dias! Preciso que saiba que me perdoei.

Agora quero que todos ouçam o que escondi tão bem de mim mesma! 

Acabei de assistir ao filme "A cabana", chorei descompassada por duas vezes, nas duas, o pai estava tão perto de sua pequena e não conseguiu tocá-la. Foi assim que me senti no início: tão próxima e tão longe... Como doeu... sem saber o que fazer para ser o que tanto havia lutado para conseguir. Olhava para minha filha e sentia saudade de minha vida de antes... Só isso... 
Sabia que não era para ser desse jeito, mas não conseguia mudar! Não sabia como...
Só sentia a condenação! Nos olhos das pessoas que olhavam com pena para minha menina...
E tudo era tão difícil, tão beirando ao insuportável... O choro, a insegurança, o pavor, a raiva de mim mesma, o casamento desabando, as noites em claro, a rotina massacrante, a falta de tempo... Nada parecido com o que acreditei que seria. 
Não posso voltar e fazer diferente, mas posso e devo recomeçar! 
E se hoje pudesse dizer algo para aquela Fernanda que segurou pela primeira vez sua menina nos braços seria: "Ei! Você fez o seu melhor! Está tudo bem! Aceite suas falhas, pois são elas que a tornam mais humanas a cada dia! Não tem problema querer fugir, a maternidade é exaustiva mesmo... Peça ajuda, justamente por ser assim! Tenho orgulho de você! Sua filha te escolheu, mesmo sabendo por tudo o que passariam, então coragem! Você é a pessoa certa para esta missão!"
E depois daria em mim mesma um longo abraço apertado repetindo: "Passou, passou, passou, tudo acontece do jeito que tem que ser!"