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59. Sentimos mais sendo mãe

Sempre fui 100% emoção. Comigo não tem muito essa história de pensar antes, não. Todas as minhas ideias e ações emanam do coração. Isso não é bom. Não em um mundo capitalista... Mas essa sou eu... E tuuudo bem...
Ok! Não está tudo bem! Nunca esteve. Quem sente, sente eternamente. Analisa, aprofunda-se, busca a fundo e... quase sempre, se machuca. A meu favor tenho a dizer que experimento a vida, ao invés de só vivê-la. Nenhum cruzar de braços, sorriso de lado, olhar de canto passam batidos. Nunca. Sem contar as tretas das energias. Eita que sinto também. 
Aos meus 38 anos diria que teria sido mais fácil não ser assim. Sei lá, posso estar errada, mas ser racional, a meu ver, parece ser menos doido. Enfim... Não terei respostas, eu sei... Fico com a sensação e ponto!
Mas porque mesmo disse isso tudo? Ah! Peguei o pensamento inicial: para contar a vocês que sinto o triplo sendo mãe! Loucura, certo? 🙃
Ser mãe intensificou alguns de meus super poderes! O de sentir demais foi o primeiro! 
Bastou o primeiro choro e bum! Explodiu algo em mim! Percebi que seria para sempre! Tudo que envolve minhas filhas, lateja! É fundo! Pertence ao oceano que morava em mim. Ele despertou!
E é por essas e outras que dói tanto. Para mim, não estou generalizando! 
Já tiveram unha encravada? Nojento e doloroso: mamãe Fer! Não tenho mais reservas para falar sobre catarro, diarreia, vômito, coco, pus, secreção... Nem frescura com baba, coisas melequentas, comer com a mão. Assim como sinto latejar diariamente o sentimento que nutro por minhas duas... Que de tão grande e desengonçado, não cabe neste humilde coração sentimental. 
E daí???  Como se faz para viver com mais outros dois corações batendo fora do peito, gente???  Dói, sim! Ser mãe é latejante! 
Dói quando estão doente, quando tiram sarro deles, quando caem, quando se levantam sozinhos, quando te desacatam. Dói quando crescem e esfregam diariamente em sua cara: não preciso mais de você! Dói demais! Dói quando, de repente, soletrando palavras, amarram o tênis, pedem para deixá-los na esquina. Dói quando seu abraço não acalantar mais. Dói ir perdendo o controle, que nunca teve, mas ainda não sabia. Dói! 
E vivenciando dor a dor, vamos seguindo, latejando aqui, soprando acolá! 
Ser mãe nos faz sentir mais. E eu, que já fazia só isso, passei a confirmar-me: será desta maneira. Acostumando-me com a dor, velha conhecida.



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