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57. Há noites tristes

Estava tudo bem: voltávamos felizes, conversando sobre o dia. Fiz uma pergunta banal: "E os trevos, filha, entregou para a professora?" Ela explicou que deixou o potinho na escola. Lamentei pelo potinho: "Mas deixou o potinho da mamãe?" Ela explicou que devolveriam amanhã. E tudo bem, disse a ela. Não... Infelizmente, não... Ela começou a chorar muito, dizendo que queria o potinho. Expliquei que poderíamos comprar outro, mas que achava que devolveriam para ela. Não adiantou. Descontrole imenso, gritos, empurrões em minhas costas enquanto dirigia.
Minha segunda tentiva foi ignorar o escândalo, ouvindo música altérrima. Piorou, no caso, os chutes. Quinze minutos de tortura para mim e para ela. Percebo o imenso desgaste emocional dela e meu. Mas nada que faço ou digo a ajuda a sair disso. Sinto-me incapaz de acalmá-la e isso acaba comigo. Sempre foi assim 😔. Hoje já entendo que é dela, mas não aceito. Ainda continuo buscanco caminhos para ajudá-la. E resolvem, sempre ajudam, pouco, mas ajudam...
Falam de fase, eu, de personalidade. "Uma menina forte!" Foi o que ouvi antes mesmo dela nascer...
Forte! E doce, inteligentíssima, linda, guerreira, teimosa, que não lida bem com frustração.
Sempre escolhe o caminho da dor, quer aprender na marra, ignora qualquer conselho meu. Faz o que acredita ser certo, porém, nem sempre está pronta para "pagar o preço". Doi tanto em mim... Como gostaria que fosse diferente...
Nesta noite dormi chorando. Acordei quatro horas depois pensando: por quê? 
Só pode ser algo que temos que aprender juntas... Mas o quê???
Ok! Seguiremos! Ela é meu amorzinho! Um dia meus pôrques serão respondidos! 🙌


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